No ano seguinte a ALFA-ROMEO não correu como fábrica.. Caracciola tinha passado o inverno a esquiar perto de Arosa com esposa e o piloto monegasco LOUIS CHIRON. Como este último tinha já deixado de pertencer à BUGATTi, ambos estavam sem carro para o ano de 1933.
Falaram de um planoque CHIRON proôs. O plano era comprar dois ALFA por conta própria e correr sob seus nomes. A equipa se chamaria SCUDERIA CC. Finalmente puseram-se de acordo e adquiriram os dois carros. A MERCEDES emprestou a CARACCIOLA uma grande camioneta para tranporte de carros para onde fosse preciso. O carro de CARACCIOLA era branco atravessado por uma faixa de cor azul, enquanto o de CHIRON era azul cruzado por faixa branca.
Apresentaram-se em Monte-Carlo para tomar parte na corrida uma semana antes. Era o GP de 1933. CARACCIOLA estava muito familiarizado com os ALFA, mas seu amigo CHIRON nunca tinha guiado nenhum antes , por isso foi CARACCIOLA quem se encarregou de ir à frente no circuito, aumentando a velocidade a cada volta que iam dando.
Estava muito satisfeito pela mestria que CHIRON demonstrava ao conduzir o pequeno ALFA. Conforme foram aumentando a velocidade, CARACCIOLA vigiava os movimentos do seu amigo pelo retrovisor. Este último rolava colado a ele, quase tocando a parte da frente do seu carro. Depois de passar em frente do casino e descer a inclinada e turtuosa rua que se interna no túnel, CHIRON desapareceu repentinamente da sua vista.
CARACCIOLA decidiu diminuir um tanto a velocidade da sua máquina e esperar pelo seu companheiro. Ao longo do porto travou seu carro. Nada aconteceu. Mas repentinamente uma das rodas dianteiras bloqueou por algum motivo, e o carro derrapou de lado até ao parapeito de pedra, no lugar conhecido sob o nome de"O recanto do estanque". CARACCIOLA declarou mais tarde que os seus reflexos funcionavam perfeitamente bem naquele momento.
Calculou que naquele momento iria a uma velocidade de 60 milhas e que ao travar não iria a mais de 15 milhas. O carro bateu violentamente no parapeito de pedra e estacou. O piloto sentado ainda na meio destruida cabina exalou um suspiro de alívio. Tinha-se saído bem do desastre. Começou a sair trabalhosamente da carlinga do carro e naquele momento chegou CHIRON, parando o seu carro atrás dele. Houve outros mais que se chegaram para lhe prestar ajuda, mas CARACCIOLA fez-lhes sinal com a mão dizendo que estava bem.
Tirou as pernas por cima da borda do carro e saltou para terra. Quando os seus pés tocaram o alcatrão , desmaiou. Doía-lhe uma perna terrívelmente, assim como todo o corpo. CHIRON mantinha-o em seus braços. Nunca tinha sentido aquela dor tão dilacerante. Meteram-no rápidamente na tabacaria que havia ao lado do lugar aonde o carro tinha batido e sentaram-no numa cadeira, o suor empapava sua testa e tinha que fazer esforços inauditos para não gritar de dor.
Por fim chegou a ambulância e foi conduzido ao hospital. CARACCIOLA foitoda aquela curta viagem a espetar as unhas na madeira da maca que mantinha seu corpo. O raio x demonstrou que partiu o fémur e o doutor opinava que era muito possível que perdesse a perna, e que se milagrosamente aquilo não acontecesse, pelo menos ficaria mais curta do que a outra, mais débil, em resumo uma perna semi inútil.
Puseram-lhe o gesso cobrindo a perna toda. CARACCIOLA tinha um pânico tremendo a que o médico o anestesiassecom clorofórmio e o operasse, pelo qual suportou valentemente todas as manipulações do médico em silêncio, sem pronunciar uma única queixa, embora todos os presentes pudessem ver o sofrimento horroroso que estava a experimentar.
Os directores da ALFA-ROMEO enviaram-no a Bolonha, onde permaneceu seis longos meses ouvindo pela telefonia a reportagem das corridas que se celebravam e que eram ganhas por outros. A maior parte do tempo passou em casa a jogar às cartas com sua mulher. Não era homem para se dedicar à leitura ou a uma conversa entretida. CARACCIOLA não era mais do que um piloto de corridas e durante todo o dia os motores zuniam em seus ouvidos.
Por vezes sentia dores, mas em todo o momento estava furioso por aquele aborrecimento que sentia e que não podia evitar. Contava os dias de repouso um a um, dias que a ele lhe pareciam séculos. Depois de seis meses tirou-se o gesso e CARACCIOLA tratou de andar sem ele, mas quando o fez tornou a sentir uma dor tão aguda na perna que quase perdeu conhecimento. Perante aquela inesperada reacção tornaram a colocar-lhe o gesso e esperando que ao fim de um mês a perna estaria muito melhorada.
Quando lhe foi dada alta no hospital , ele foi com a mulher para a Suiça. Andava com a ajuda de umas muletas e ainda tinha dores de vez em quando, mas dia a pós dia ia fazendo terríveis esforços por fazer algum exercício físico. Até entãonão via progresso algum e desesperava-se perante a lentidão que lhe consumia os nervos. Recebeu então a notícia de que a MERCEDES tornava a apresntar seus carros em 1934. Estaria CARACCIOLA disposto a tripular um deles?
Insistiu uma e outra vez dizendo que sim, que estaria . Mas apesar das suas afirmações a casa mandou um emissário. Quando CARACCIOLA o soube obrigou o médico a que lhe desembaraçasse a perna de todas aquelas ligaduras, e esteve a praticar, passeando um pouco frente ao espelho.
Quando chegou a visita, pretendeu fazer ver que a perna se encontrava em muito bom estado, e até se deu ao luxo de bater fortemente no joelho, sem que o seu rosto mostrasse o mínimo sinal de dor. Muito pelo contrário, sorria alegremente. Nunca se iria embora aquele individuo? O emissário da MERCEDES não sabia os esforços que ele fazia para controlar a dor.
«Então estaria disposto a voltar?» - perguntou ao ir embora.
«Depende das condições!» respondeu CARACCIOLA.
O emissário informou a casa de que não poderia contar com CARACCIOLA. Era evidente que sua perna ainda não estava em condições para se sentar ao volante. O piloto e sua esposa CHARLY partiram para as montanhas. Tanto um como o outro amavam o desporto do esqui, mas agora passavam o dia a jogar cartas. De tarde faziam grandes passeios e sempre com RUDY apoiado no ombro de sua mulher.
Mas nunca queria sair antes do anoitecer, não queria que ninguém o visse naquelas condições, incapaz de dar um passo sózinho.
IN "CARS AT SPEED"
ROBERT DALEY 1965
Apresentaram-se em Monte-Carlo para tomar parte na corrida uma semana antes. Era o GP de 1933. CARACCIOLA estava muito familiarizado com os ALFA, mas seu amigo CHIRON nunca tinha guiado nenhum antes , por isso foi CARACCIOLA quem se encarregou de ir à frente no circuito, aumentando a velocidade a cada volta que iam dando.
Estava muito satisfeito pela mestria que CHIRON demonstrava ao conduzir o pequeno ALFA. Conforme foram aumentando a velocidade, CARACCIOLA vigiava os movimentos do seu amigo pelo retrovisor. Este último rolava colado a ele, quase tocando a parte da frente do seu carro. Depois de passar em frente do casino e descer a inclinada e turtuosa rua que se interna no túnel, CHIRON desapareceu repentinamente da sua vista.
CARACCIOLA decidiu diminuir um tanto a velocidade da sua máquina e esperar pelo seu companheiro. Ao longo do porto travou seu carro. Nada aconteceu. Mas repentinamente uma das rodas dianteiras bloqueou por algum motivo, e o carro derrapou de lado até ao parapeito de pedra, no lugar conhecido sob o nome de"O recanto do estanque". CARACCIOLA declarou mais tarde que os seus reflexos funcionavam perfeitamente bem naquele momento.
Calculou que naquele momento iria a uma velocidade de 60 milhas e que ao travar não iria a mais de 15 milhas. O carro bateu violentamente no parapeito de pedra e estacou. O piloto sentado ainda na meio destruida cabina exalou um suspiro de alívio. Tinha-se saído bem do desastre. Começou a sair trabalhosamente da carlinga do carro e naquele momento chegou CHIRON, parando o seu carro atrás dele. Houve outros mais que se chegaram para lhe prestar ajuda, mas CARACCIOLA fez-lhes sinal com a mão dizendo que estava bem.
Tirou as pernas por cima da borda do carro e saltou para terra. Quando os seus pés tocaram o alcatrão , desmaiou. Doía-lhe uma perna terrívelmente, assim como todo o corpo. CHIRON mantinha-o em seus braços. Nunca tinha sentido aquela dor tão dilacerante. Meteram-no rápidamente na tabacaria que havia ao lado do lugar aonde o carro tinha batido e sentaram-no numa cadeira, o suor empapava sua testa e tinha que fazer esforços inauditos para não gritar de dor.
Por fim chegou a ambulância e foi conduzido ao hospital. CARACCIOLA foitoda aquela curta viagem a espetar as unhas na madeira da maca que mantinha seu corpo. O raio x demonstrou que partiu o fémur e o doutor opinava que era muito possível que perdesse a perna, e que se milagrosamente aquilo não acontecesse, pelo menos ficaria mais curta do que a outra, mais débil, em resumo uma perna semi inútil.
Puseram-lhe o gesso cobrindo a perna toda. CARACCIOLA tinha um pânico tremendo a que o médico o anestesiassecom clorofórmio e o operasse, pelo qual suportou valentemente todas as manipulações do médico em silêncio, sem pronunciar uma única queixa, embora todos os presentes pudessem ver o sofrimento horroroso que estava a experimentar.
Os directores da ALFA-ROMEO enviaram-no a Bolonha, onde permaneceu seis longos meses ouvindo pela telefonia a reportagem das corridas que se celebravam e que eram ganhas por outros. A maior parte do tempo passou em casa a jogar às cartas com sua mulher. Não era homem para se dedicar à leitura ou a uma conversa entretida. CARACCIOLA não era mais do que um piloto de corridas e durante todo o dia os motores zuniam em seus ouvidos.
Por vezes sentia dores, mas em todo o momento estava furioso por aquele aborrecimento que sentia e que não podia evitar. Contava os dias de repouso um a um, dias que a ele lhe pareciam séculos. Depois de seis meses tirou-se o gesso e CARACCIOLA tratou de andar sem ele, mas quando o fez tornou a sentir uma dor tão aguda na perna que quase perdeu conhecimento. Perante aquela inesperada reacção tornaram a colocar-lhe o gesso e esperando que ao fim de um mês a perna estaria muito melhorada.
Quando lhe foi dada alta no hospital , ele foi com a mulher para a Suiça. Andava com a ajuda de umas muletas e ainda tinha dores de vez em quando, mas dia a pós dia ia fazendo terríveis esforços por fazer algum exercício físico. Até entãonão via progresso algum e desesperava-se perante a lentidão que lhe consumia os nervos. Recebeu então a notícia de que a MERCEDES tornava a apresntar seus carros em 1934. Estaria CARACCIOLA disposto a tripular um deles?
Insistiu uma e outra vez dizendo que sim, que estaria . Mas apesar das suas afirmações a casa mandou um emissário. Quando CARACCIOLA o soube obrigou o médico a que lhe desembaraçasse a perna de todas aquelas ligaduras, e esteve a praticar, passeando um pouco frente ao espelho.
Quando chegou a visita, pretendeu fazer ver que a perna se encontrava em muito bom estado, e até se deu ao luxo de bater fortemente no joelho, sem que o seu rosto mostrasse o mínimo sinal de dor. Muito pelo contrário, sorria alegremente. Nunca se iria embora aquele individuo? O emissário da MERCEDES não sabia os esforços que ele fazia para controlar a dor.
«Então estaria disposto a voltar?» - perguntou ao ir embora.
«Depende das condições!» respondeu CARACCIOLA.
O emissário informou a casa de que não poderia contar com CARACCIOLA. Era evidente que sua perna ainda não estava em condições para se sentar ao volante. O piloto e sua esposa CHARLY partiram para as montanhas. Tanto um como o outro amavam o desporto do esqui, mas agora passavam o dia a jogar cartas. De tarde faziam grandes passeios e sempre com RUDY apoiado no ombro de sua mulher.
Mas nunca queria sair antes do anoitecer, não queria que ninguém o visse naquelas condições, incapaz de dar um passo sózinho.
IN "CARS AT SPEED"
ROBERT DALEY 1965
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