Elio De Angelis era um romano de boas famílias, que tocava piano de forma virtuosa e granjeou nos "paddocks" uma simpatia inigualável. A sua morte numa pista onde meios de socorro eram inexistentes, durante testes privados, despoletou uma enorme campanha a favor da segurança na Fórmula 1.
Depois do acidente fatal de Elio De Angelis, durante uma sessão de testes promovida pelas equipas de F1, a pista de Paul Ricard nunca mais foi a mesma. A temível e longa recta Mistral - cujo nome vinha exatamente do forte vento quente que soprava ao longo dos seus mais de 1000 metros comprimento, foi encurtada e a Fórmula 1 baniu-a em definitivo. Infelizmente, o acidente do piloto da Brabham significou que, fosse em testes privados ou em ações oficiais, passou a ser obrigatória a presença de meios de socorro e médicos adequados, incluindo um helicóptero. Uma decisão que já não salvou a vida de um dos mais queridos pilotos da F1 dessa altura.
Os primeiros recordes
Elio de Angelis era a antítese do piloto entusiasmante. Metódico e calmo, não deixava por isso de ser um lutador talentoso. Verdadeiro gentleman, nas pistas deixava de ser aquele cavalheiro inato que o tornou lendário, para ser um autêntico oficial guerreiro, sempre pronto para luta.
Elio de Angelis podia não ser dono de uma pilotagem espetacular; pode ter ganho apenas dois Grandes Prémios de F1, em 108 partidas - mas tinha um inegável talento, que cultivou de forma metódica numa aprendizagem meteórica nas chamadas fórmulas de promoção. Até chegar à F1 com apenas 21 anos.
Por isso, Elio de Angelis foi detentor de alguns recordes de juventude na F1 - por exemplo, até 1997 foi o mais jovem piloto de a subir ao pódio de uma prova de F1, no caso no GP do Brasil de 1980. Ainda hoje, ele é o 3º piloto mais jovem de sempre a ter pontuado; o 5º mais jovem a ter chegado ao fim de uma corrida de F1; e o 6º mais jovem a ter ganho na F1 (Áustria, em 1982).
Sempre bem educado
Romano, Elio de Angelis era herdeiro de uma das mais ricas famílias italianas. Por isso, recebeu uma educação esmerada: sabia falar francês, era exímio tocador de piano e não se coibia de cantar para animar os amigos nos serões. Na verdade, De Angelis quase representou a fábula do gato rico que tocava piano e falava francês: foi o derradeiro representante de uma gesta glamourosa e quase poética da F1, em que pilotar um automóvel de corrida era a parte mais difícil de uma "dolce vita" vivida sempre no limite e para o prazer mais puro e eficaz. E à qual pertenceram François Cèvert e, mais longe ainda no tempo, Eugénio Castellotti, Von Trips, Godin de Beaufort, até mesmo o nosso Nicha Cabral - para apenas citar alguns. Foi isso, definitivamente, o que me seduziu em Elio de Angelis.
Elio de Angelis era imensamente popular no "paddock" e um dos carateres mais queridos entre os seus colegas de profissão. Apesar de oriundo de uma família rica, trouxe desde o berço os genes da competição: o seu pai Giulio era, então, um dos mais conceituados pilotos de "offshore" italianos, com alguma reputação mundial. De Angelis teve uma breve, mas bem sucedida, passagem pelos "karts", antes de ascender aos monolugares e vencer o campeonato de Itália de F3, em 1977. Em 1979, começou na F1 e, na sua carreira na modalidade, estreou-se com a Shadow, marcando três pontos no seu primeiro ano. Depois, entre 1980 e 1985, esteve na Lotus, onde foi o preferido de Colin Chapman. Mais tarde, a chegada de Ayrton Senna a uma Lotus já descaracterizada e liderada por Peter Warr fez a sua estrela começar a empalidecer - até, desiludido, decidir bater com a porta e rumar à Brabham; a política não era o seu forte, mas sim pilotar por e com prazer. De Angelis foi, assim, o primeiro colega de equipa trucidado pela máquina Senna.
Na Brabham, o romano debateu-se com o dificílimo e perigoso BT-55 e foi na tentativa de melhor perceber o radical carro desenhado por Gordon Murray que sofreu, no Le Castellet, o seu fatal acidente, no dia 14 de Maio de 1986: uma inócua sessão de treinos privados, sem médicos e comissários de pista; um carro que perdeu o controlo a mais de 300 km/h, depois de se ter soltado o "aileron" traseiro, embateu nas proteções a saltou para lá dos limites da pista, desfeito e envolto em chamas. Os primeiros a chegar foram os próprios colegas de pista de De Angelis, que tentaram extrair o piloto, ainda vivo, dos destroços. Missão impossível - os socorros chegaram muito tarde e o helicóptero apenas pousou cerca de meia hora após o desastre. Tarde de mais para salvar o piloto, que morreu no hospital no dia seguinte, sem recuperar a consciência. Sem dúvida, foi o fim de uma era: progressivamente, a F1 perdeu o seu "glamour", tornando-se no negócio tortuoso e cruel que hoje é. E onde os pilotos são, apenas, máquinas de um fantástico Casino Royale.
Quem não leu a matéria sobre o Principe Negro tem a chance de ler novamente.
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