Essa é mais uma sessão originalmente do Schelb F1 Team: Equipes Inesquecíveis. E hoje eu vou falar sobre uma das minhas equipes preferidas entre as equipes médias, a Ligier.
Antes de falar sobre a equipe, algumas palavras sobre seu fundador, o francês Guy Ligier. Ele era piloto e disputou algumas corridas na Fórmula 1 com sua equipe privada, correndo com carros da Cooper e da Brabham, entre as temporadas de 1966 e 1967, conseguindo três sextos lugares como melhores resultados, somando ao todo 3 pontos.
Em 1969, Ligier funda a Ligier Sport S.A., a princípio disputando provas de turismo e endurance, com bastante sucesso, conseguindo, inclusive, um segundo lugar nas 24 Horas de Le Mans em 1975. A equipe era apoiada pela Gitanes, famosa marca de cigarros francesa, e no fim deste mesmo ano de 1975, a tabaqueira propôs a Ligier que ele montasse uma estrutura na Fórmula 1. Ele gostou da idéia, principalmente pelo fato de que, desde a saída da equipe da Matra em 1973, a França não tinha uma equipe na Fórmula 1.
Então, no GP do Brasil de 1976, a Equipe Ligier alinhava pela primeira vez na categoria máxima. E logo de cara chamou a atenção de todos com o seu primeiro modelo, o JS5, o famoso “Bule Voador”, projetado por Gerard Ducarouge. O carro em si de projeto até bem simples, mas com sua exagerada tomada de ar para o motor, acabou se tornando um clássico da Fórmula 1. O motor era um potente Matra de 3 litros e 12 cilindros; ao volante, Jacques Laffite.
A temporada de estréia foi muito boa, com Laffite conseguindo três pódios e marcando 20 pontos, terminando o ano em 8º lugar, com a equipe conseguindo a 6ª posição entre os construtores (resultado excelente, considerando-se que a temporada toda foi disputada com apenas um carro)
O ano de 1977 marca a primeira vitória da Ligier. Foi no GP da Suécia, em Anderstop, pelas mãos de Laffite. No final dessa temporada, a equipe contrata Jean-Pierre Jarrier, que tinha começado o ano pela Shadow, para correr ao lado de Laffite, que conquistou os únicos pontos da equipe no ano (18 pontos), conseguindo o 10º lugar para ele e novamente o 8º lugar entre os construtores. Em 1978 a equipe volta a correr apenas com o carro de Laffite, que fica em 8º entre os pilotos, com 19 pontos, dando à Ligier o 6º lugar no Mundial de Construtores.
Em 1979, a equipe troca os motores da Matra pelos Ford-Cosworth DFV, mais competitivos, leves e confiáveis, e contrata Patrick Depailler para correr ao lado de Laffite. Depailler consegue uma vitória no GP da Espanha, em Jarama, mas é substituído, depois de um acidente, pelo veterano Jacky Ickx a partir do GP da França. Laffite se mantém como o líder da equipe, vence duas provas (Argentina e Brasil), consegue mais quatro pódios e, mesmo abandonando oito corridas, marca 36 pontos e chega ao 4º lugar entre os pilotos. Depailler marcou 20 pontos (na verdade foram 22, mas pelo sistema de descartes, ele acabou com 20), ficando em 7º e Ickx conseguiu 3 pontos, levando a equipe a marcar 61 pontos alcançando o sensacional 3º lugar entre os construtores.
Mas 1980 foi o grande ano da Ligier. A equipe contrata Didier Pironi para fazer dupla com Laffite, e cada um conquista uma vitória (Pironi na Bélgica e Laffite na Alemanha), com mais sete pódios no total e 66 pontos (34 de Laffite e 32 de Pironi), dando o vice-campeonato de construtores à equipe francesa, com Laffite em 4º e Pironi em 5º entre os pilotos.
A partir de 1981, a equipe tem uma queda de rendimento, ficando com 4º lugar nesse ano, e o 8º em 1982. Em 1983, Jacques Laffite vai para a Williams e a Ligier tem sua pior temporada até então, ficando apenas em 11º lugar, sem marcar nenhum ponto. Em 1984, a equipe troca os defasados Ford DFV aspirados pelos poderosos Renault turbo, mas não há uma melhora significativa; com apenas 3 pontos marcados (todos por Andrea De Cesaris), e o 10º lugar.
Andrea De Cesaris, no JS23, primeiro carro da equipe com motor Turbo (1984)
1986 marca a aposentadoria de Laffite, após um grave acidente no GP da Grã-Bretanha, em Brands Hatch, quando vinha fazendo uma boa temporada, com 2 pódios até então. O seu companheiro era René Arnoux. Ambos marcaram 14 pontos, e Philippe Aliot, que havia entrado no lugar de Laffite, mais 1, dando 29 pontos e o 5º lugar no Mundial de Construtores.
A partir de 1987, com a perda dos motores Renault, a Ligier tem que se virar com o que consegue, primeiro o fraco e nada confiável Alfa Romeo turbo V8 (que deixou a equipe na mão no GP do Brasil), depois com o defasado Megatron turbo L4, marcando apenas 1 ponto. Em 1988 a situação é ainda pior, com os horrendos Judd aspirados V8, nem mesmo a experiência de René Arnoux e Stefan Johansson consegue salvar a equipe, que termina o ano zerada pela segunda vez em sua história. Arnoux continua em 1989, o motor passa a ser o Ford DFR (a partir desse ano os turbos foram banidos, e todas as equipes passaram a correr com propulsores aspirados), há uma pequena melhora, com a equipe conseguindo 3 pontos. Em 1990 e 1991 a Ligier não sai do zero, mas em 1992, a coisa começa a mudar por lá, com a chegada dos motores Renault, com a equipe conseguindo ao menos 6 pontos e terminando o ano em 7º lugar. Um fato curioso sobre a temporada de 1992 é que o então tri-campeão Alain Prost, que tinha saído da Ferrari, chegou a testar pela Ligier, mas preferiu não se arriscar e acabou ficando de fora da temporada.
Já em 1993 a equipe vem muito mais consistente, com os bons pilotos Martin Brundle e Mark Blundell, um bom carro, o JS39 (apelidado na época de “Williams francesa”, devido à semelhança com o carro do time inglês) e o ótimo motor Renault RS5 3.5 litros de 10 cilindros (o mesmo da Williams). Eles conseguem três pódios e o 5º lugar entre os construtores.
Em 1994 e 1995, a equipe tem resultados razoáveis, com alguns pódios (Panis e Bernard em 94; e Panis e Brundle em 95), terminando respectivamente em 6º e 5º lugares.
Em 1996 a coisa ia muito mal, com a equipe com sérios problemas financeiros, mas eis que acontece uma grata surpresa: Olivier Panis, largando de 14º, vence o caótico GP de Mônaco, onde somente quatro carros cruzaram a linha de chegada. Mas isso não é o suficiente para salvar a Ligier, e a equipe é comprada pelo tetra-campeão Alain Prost no fim da temporada. Era o fim de uma belíssima história que havia começado 20 anos antes.
Os números da Ligier:
Foram 330 corridas disputadas, 9 pole-positions, 9 vitórias, 45 pódios, 9 voltas mais rápidas e um vice-campeonato de Construtores (1980).
Uma volta em Monza com Jacques Laffite, 1978
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